Texto atualizado em 05/05/2023, com correções
(por Celso Nascimento) – Era uma vez um português chamado Jozé, mais precisamente Jozé de Azevedo Vieira. Ele nasceu em 1712 num lugar chamado São Pedro da Nogueira, no arcebispado de Braga, região do Minho. Seu pai era Tomé Azevedo, a mãe Maria Rodrigues Vieira, ambos nascidos e casados na mesma paróquia.
Jozé veio para o Brasil por volta de 1740 e foi parar em Nazaré Paulista, uma pequena povoação que surgiu bem perto da divisa com Minas Gerais como ponto de passagem dos bandeirantes que iam se aventurar nas minas de ouro e pedras preciosas. Nazaré prosperou um pouco a partir da primeira metade do século 18 ao se dedicar a uma incipiente cafeicultura.
Pois bem: Jozé de Azevedo Vieira está na origem direta da formação do nosso clã familiar Azevedo. Ele se casou em Nazaré Paulista com a já brasileira Maria Telles de Menezes, moradora do lugar, em 1744. Ele já tinha 31 anos de idade; Maria, 16, filha das tradicionais famílias Prado e Pinheiro. Jozé morreu aos 71 anos sem deixar herança por não “ter do que”, como escreveu o vigário que lhe administrou a extrema-unção, embora tenha parte do valor resultante da venda da escrava Gertrudes deixada pela mãe de Maria.
Jozé teve um trabalhão danado para conseguir autorização para se casar com Maria, pois a Igreja exigia dele provas de que não havia deixado mulher e filhos em Portugal. Jozé tinha apenas a certidão de batismo como documento pessoal, mas arranjou aqui testemunhas que atestaram ser ele solteiro e, portanto, desimpedido. O caso foi levado ao bispo de São Paulo que, por fim, aceitou as alegações e mandou o padre de Nazaré a celebrar o matrimônio.
Jozé de Azevedo Vieira e a jovem esposa Maria Telles de Menezes tiveram pelo menos sete filhos, dentre os quais Jozé Antonio de Azevedo. Que deu sequência à formação da nossa família ao se casar em 1782 com Maria Francisca de Moraes, também de Nazaré Paulista. Tiveram pelo menos oito filhos conhecidos. Vejam, portanto, que até aí, o solitário português Jozé de Azevedo Vieira já tinha “produzido” uma descendência de 15 novos Azevedos no Brasil para constituir o nosso clã.
Dentre esses filhos nasceu Antonio José de Azevedo, que se casou com Theodora Fernandes da Rosa em 1790. De novo surge um punhado de filhos, não se sabe exatamente quantos, mas minhas pesquisas identificaram quatro deles. Chamava-se Joaquim José de Azevedo o mais velho desses filhos, nascido em 1818.
Joaquim casou-se cerca de 1838 com Justina Fernandes de Campos em Paraisópolis (SP), filha de Felippe Fernandes de Campos, um próspero fazendeiro que legou aos seus filhos e genros uma herança considerada muito boa. Além de terras e objetos domésticos e de lavoura, deixou também muitos cavalos e bois e seis escravos.
Joaquim e Justina foram beneficiários de parte da herança, dividindo-a (sem alguma “encrenca” familiar) com outra dezena de herdei
ros. Foi complicado receber o quinhão que lhes cabia, pois Joaquim e Justina já moravam em Santana do Itararé quando foi feito o inventário de Felippe em 1868. Numa época em que não existia WhatsAp
p, telegrama ou telefone, foi difícil nomear procuradores para os representarem no testamento. Não se sabe que valor teria hoje esta herança.
O que se sabe é que a tradição de formar famílias numerosas foi seguida religiosamente também pelo casal Joaquim-Justina. Foram 10 os seus filhos, a maioria nascida ainda em Minas Gerais (Cambuí, Consolação, Campo Místico… revelando enorme mobilidade entre cidades do Sul de Minas). Nasceram em Minas a partir de 1840 Ignácio, Anna, Felippe, Antonio José, Maria Cândida, José Antonio e Manoel. Já são paranaenses Marianna Generosa, Francisco e Maria Ignácia.
É nesse ponto que nós, os Azevedos que pertencemos a este clã, realmente surgimos em linha direta.
Devemos isso ao terceiro filho, Felippe Fernandes de Azevedo, que, inicialmente com a primeira esposa, sua prima Anna Vicência Fernandes de Campos, e, em segundas núpcias, com Maria Luiza dos Santos, criou um total de 10 filhos.
Com Anna Vicência teve uma única filha:
– Maria José do Espírito Santo (1877)
Com Maria Luiza, Felippe teve os outros nove:
– Maria Remmer (1894)
– Anna Vicência (1895, o nome homenageou a primeira esposa)
– José Felippe (1898)
– Joaquim Felippe (1899),
– João Felippe (1904)
– Eugenio Felippe (1906)
– Maria Justina (1906)
– Elias Felippe (1907)
– Luiz Felippe (1909)
Felippe Fernandes de Azevedo morreu em junho de 1910, assim como já se foi há tempos a totalidade de seus filhos, noras e genros.
E aqui estamos nós, seus netos, bisnetos e tataranetos, unidos pelo sangue que nos foi legado pelo pioneiro imigrante português Jozé de Azevedo Vieira desde os idos do século 17!
Quantos somos hoje? Centenas ou talvez milhares?
* * *
(Pesquisa e reconstituição histórica feitas por Celso Nascimento a partir de documentos autênticos encontrados em livros paroquiais e em cartórios civis de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, além de Portugal, em sites confiáveis de genealogia e com informações adicionais disponíveis na internet. Grande parte destes documentos está digitalizada e devidamente armazenada).
7 comentários em “Jozé, o português que chegou ao Brasil em 1740 e deu origem ao nosso clã Azevedo”
Existe alguma ramificação de algum desses Azevedos que foi para o Pernambuco?
Obrigado pelo contato, mas infelizmente não temos informação sobre a existência de alguma ramificação em Pernambuco. Pesquisas genealógicas em torno do ramo a que se dedica este blog indicam nossa origem apenas na região do Sul de Minas Gerais a partir, principalmente, do ciclo de mineração de ouro no século 18. Esgotado este ciclo, os parentes Azevedo se dedicaram à agricultura e, posteriormente, já em meados do século 19, migraram em grande número para o Norte Pioneiro do Paraná.
Meu pai se chama Carlos Alberto Souza de Azevedo, nasceu na década de 60 no Paraná. Ele fala que o pai dele tinha mais de 40 filhos. O pai dele se chamava Jorge Brasileiro Azevedo(?)
Este nome (Carlos Alberto S.de A.) não apareceu em nenhuma pesquisa genealógica que indique parentesco com o objeto do nosso blog http://www.familiazevedo.com.br.
Oi, Felipe: desconheço relação direta entre os Azevedo’s do Sul de Minas com os de Pernambuco.
Adão Rocha de Azevedo, meu pai nascido em em 1939 em Povoado de São Caetano Minas Gerais. Tenho muito orgulho dessa origem de Judeus perseguidos em Portugal. Já estive em Portugal.
O ramo Azevedo de que trata este blog se concentrou desde o século 18 no Sul de Minas, na divisa com São Paulo e Rio de Janeiro. Depois, no século seguinte (19), migrou em grande número para o Sul de São Paulo (região de Itaporanga) e Norte do Paraná (Santana do Itararé e São José da Boa Vista). Se olhar no mapa, verificará que São Caetano fica em direção oposta (Norte). Haverá parentesco? Não sei responder.