Nascida Maria Justina de Azevedo, começa com uma dúvida irreparável: qual foi o ano exato de seu nascimento? Parece ter sido 1909, mas há registros informando 1907 e mesmo 1906.
O dia foi 10 de outubro, em Barbosa, hoje Santana do Itararé, no Estado do Paraná. Seus pais foram Felippe Fernandes de Azevedo (que teria por avó uma índia de nome Moema) e Maria Luiza dos Santos (filha de Francisco dos Santos, conhecido por Chico Santeiro, e Maria Joana dos Santos). O avô Chico Santeiro modelava em barro imagens de santos, advindo daí a alcunha.
Maria Justina, em suas lembranças mais remotas, contava que apreciava vê-lo trabalhar nessa arte com suas mãos grandes e hábeis. Sobre seu pai Felipe Fernandes, de quem ficou órfã ainda muito menina (tinha menos de cinco anos), pouco soube. Teria lutado na Guerra do Paraguai (1865-1870) e, ao término do conflito, recebido do Imperador Dom Pedro II cem mil hectares de terras situadas em região que hoje se reparte entre os municípios de Wenceslau Brás, Siqueira Campos, Tomasina e Jaguariaíva.
Conta-se ainda que teve vários filhos com uma escrava, a quem teria doado dez mil hectares de terra. Esses filhos mulatos comporiam o chamado ramo dos Azevedo Pretos, cujos descendentes, segundo algumas fontes, podem ainda ser encontrados naquela região.
Aos seus olhos de menina ainda bem pequena, o pai se afigurava um homem bonito, corado, alto e forte, ostentando uma barba farta e grisalha. Fora viúvo, e do casamento anterior possuía uma filha chamada Maria José. Do casamento com Maria Luiza dos Santos vieram-lhe mais nove filhos: além de Maria Justina, que foi a sétima, Maria, Ana Vicência, Joaquim Felipe, João Felipe, Antônio Felipe, Eugênio Felipe, Elias Felipe e Luiz Felipe, este o mais novo e o mais assemelhado ao pai.
Fazendeiro abastado, criava gado e nutria especial carinho por seus animais, e Maria Justina guardou a sua frase que sintetizava esse sentimento: “Boi que presta serviço não vai para o corte; morre no pasto”. Do mesmo modo, cavalo velho vivia seus dias finais pastando em descanso. Esse carinho em relação aos bichos em geral Maria Justina herdou do pai e o carregou por toda a vida.
Outra lembrança era a do pai sentado, à noite, numa cadeira de balanço perto de um enorme fogão de taipa. Ele a convidava a sentar-se em seu colo e ela, feliz, se acomodava em seus braços e punha-se a acariciar sua longa barba até que o sono a vencesse.