Foi ainda em 1933 que o destino reservou a Maria Justina a que talvez tenha sido sua maior tragédia pessoal: sua filha Lurdinha, a primeira, machucou um dedo e o ferimento infeccionou. Conduzida ao médico, a supuração foi lancetada, mas as febres altas vieram e em 28 de junho o tétano a matou.
Devastada pela dor, permaneceu dias fechada em seu quarto. O início de sua recuperação desse transe foi assinalado por um acontecimento eivado de mistério e encanto, que ela gostava de lembrar.
Segundo contava, naqueles primeiros dias após a perda da filha ela permanecia trancada em seu quarto, em luto atroz, quando ocorreu de um passarinho pousar e pôr-se a cantar no peitoril da janela. A cena se repetiu por dias e Maria Justina passou a esperá-lo com migalhas de comida.
Em meio à dor profunda, imaginou que as visitas fossem o modo mágico de a filha confortá-la. Essa ideia começou a devolver-lhe o ânimo, e quando as visitas cessaram, como se a missão estivesse cumprida, Maria Justina pôde retomar a vida, apesar de tudo.
A tristeza, ou a saudade, ela carregou sempre consigo e falar a respeito da filha, mesmo muito depois de desaparecida, a comovia e marejava de lágrimas seus olhos. Também permaneceu para ela a ligação entre Lurdinha e passarinhos. Quando estes baixavam no quintal para recolher as sobras de alimentos que ela lhes deixava, junto vinha a lembrança da filha que perdera.